A obesidade é consequência do acúmulo excessivo de gordura no organismo, que ocorre quando a oferta de calorias é constantemente maior que o gasto energético corporal. Sua incidência tem aumentado muito nos últimos anos se tornando um dos maiores problemas de saúde pública na atualidade. Atinge 600 milhões de pessoas no mundo e 30 milhões só no Brasil, se for incluído as pessoas com sobrepeso esse número aumenta para 95 milhões de brasileiros.
As principais causas de obesidade são ingestão excessiva de alimentos (hábitos de vida contemporâneo favorecem consumo de alimentos com alto valor calórico); falta de atividade física (sedentarismo) ; tendência genética (quando pais são obesos aumenta em 60%as chances dos filhos serem obesos também); problemas hormonais.
CENÁRIO ATUAL DA OBESIDADE:
O método utilizado atualmente para determinar se uma pessoa é obesa é o ÍNDICE DE MASSA CORPOREA (IMC) que é determinado dividindo-se o peso (em kilo) pela altura ao quadradro (em metro).
Calcule seu IMC: http://migre.me/aAkpm
Por exemplo uma pessoa com peso de 130 kg e altura de 1,70m :
IMC: 130 / 1,70 X 1,70 = 44,98
O termo obesidade mórbida foi introduzido na medicina para indicar as pessoas com grande excesso de peso, que apresentam elevado risco a sua saúde se não forem adequadamente tratadas. Toda pessoa com IMC maior que 40 tem obesidade mórbida.
A obesidade mórbida aumenta consideravelmente o risco de várias doenças e de morte, como:
- Doenças do coração e circulação: infarto, derrame e hipertensão arterial;
- Diabete;
- Doença da coluna e articulações;
- Doença do aparelho digestivo como pedra na vesícula e doença do refluxo gastro esofageano ( DRGE);
- Alterações hormonais e sexuais;
- Dificuldade de respiração e do sono;
- Depressão;
- Risco elevado de morte. Dependendo da idade , o paciente com obesidade tem de 6 a 12 vezes mais chance de morrer do que uma pessoa sem obesidade.
Além desses riscos, o paciente com obesidade mórbida tem limitação de sua qualidade de vida, com dificuldade para dormir, andar, correr e da utilização de meios de transporte. Frequentemente ocorreram problemas de relacionamento pessoal.
TRATAMENTO:
A primeira opção para se livrar do excesso de peso é o chamado tratamento clínico, com dieta, exercícios, medicação e acompanhamento com endocrinologista e nutricionista. Entretanto, essas medidas são ineficazes na quase totalidade dos pacientes com obesidade mórbida.
O tratamento cirúrgico é o único método que resulta em perda de peso prolongada e reduz riscos de complicações e morte das doenças associadas a obesidade mórbida.
A mortalidade por cirurgia bariátrica laparoscópica em 2009 é 0,3%.
INDICAÇÕES DE TRATAMENTO CIRÚRGICO:
(Resolução CFM n 1.766/05 de 13/05/2005)
- IMC > 40 OU > 35 que apresentem doenças associadas ( diabete, hipertensão arterial, alteração colesterol ou triglicérides, apnéia do sono, doenças arteriais do coração, doenças das articulaçóes e outras;
- Pacientes com obesidade estável há pelo menos 5 anos que foram submetidos a pelo menos 2 anos de tratamento clínico sem sucesso;
- Ausência de dependência de drogas ilícitas ou alcoolismo;
- Compreensão pelo paciente e seus familiares dos riscos e mudanças de hábitos inerentes a uma operação de grande porte e da necessidade de acompanhamento pós operatório com equipe multidisciplinar ( psicologia, nutricionista, médicos) o resto da vida.
Portanto a decisão de realizar uma operação para obesidade é difícil e só deve ser tomada após uma reflexão demorada, ter conversado com seus familiares e ter consultado um médico de confiança.
Você precisará mudar seu estilo de vida nos pós operatório para o resto de sua vida, para que o procedimento tenha um sucesso duradouro (ou seja a cirurgia não é um milagre, depende de seu esforço também). Por outro lado os benefícios da cirurgia, tanto na melhora da qualidade de vida, como na redução significativa das complicações das doenças associadas, são muito compensadoras para a grande maioria dos pacientes.
O principal objetivo do tratamento cirúrgico é ajudá-lo a perder peso. A maioria dos pacientes perde de 60 a 80% do excesso de peso, essa perda é muito acentuada no primeiro mês e depois é mais gradativa. Seguindo as orientações pós operatórias da sua equipe multidisciplinar, a maioria dos paciente não reganha peso nos anos subsequentes a cirurgia.
É importante você saber que sua participação é fundamental para o sucesso da operação. Você precisará mudar seus hábitos alimentares e seu estilo de vida para o resto de sua vida, isso significa que você deverá ingerir alimentos em menor quantidade e com menor valor calórico e deverá ser mais ativo, com programas de exercício frequentes.
TIPOS DE PROCEDIMENTOS:
- Procedimentos restritivos que diminuem a ingestão de alimentos;
- Procedimentos desabsortivos, que causam uma absorção incompleta do alimento;
- Procedimentos mistos (com componente restritivo e desabsortivo).
TIPOS DE CIRURGIA:
- Bypass Gástrico ou Gastroplastia com Derivação Intestinal em Y de Roux (Capella) – cirurgia mista
“É a mais realizada em nosso serviço”
A gastroplastia com derivação em Y de Roux é o procedimento padrão ouro atual para cirurgia bariátrica pela SBCBM. É um dos procedimentos para perda de peso mais realizado no Brasil. Nesse procedimento, o grampeamento cria uma pequena bolsa do estômago (30 a 50 ml). O restante do estômago não é removido, mas totalmente grampeado e separado da bolsa do estômago. A saída dessa bolsa formada passa direto para a parte inferior do jejuno, desviando assim a absorção de alimentos.
Esse desvio é feito dividindo o intestino delgado pouco depois do duodeno, a fim de levá-lo até o estômago e construir uma ligação (anastomose – ligação) com a bolsa do estômago formada. A outra extremidade é ligada à lateral da alça em Y de Roux do intestino, criando a forma de “Y” que dá seu nome à técnica. O comprimento de um dos segmentos do intestino pode ser aumentado, para produzir níveis mais baixos ou mais altos de malabsorção.
Vantagens:
– A média para perda de peso, após o procedimento de Gastroplastia e derivação em “ Y de Roux”, geralmente é maior em um paciente complacente que após o procedimento restritivo puro;
– Um ano após a cirurgia, a perda de peso pode chegar a 77-100% do peso corporal excessivo;
– Estudos demonstram que, após 10 a 14 anos, 60% da perda de peso corporal excessivo foi mantida;
– Demonstrou-se que 70-90% de determinadas condições de saúde associadas (dor nas costas, apneia do sono, pressão sanguínea alta, diabetes e depressão) foram melhoradas ou solucionadas;
– Pode ser revertida.
Riscos:
– Como o alimento é desviado do duodeno, existe risco sobre a mal absorção de alguns minerais e vitaminas, porém em um grau menor se comparada a técnicas desabsortivas;
– Uma condição conhecida como, “síndrome do esvaziamento rápido” ( Sd Dumping), pode ocorrer como resultado do rápido esvaziamento do conteúdo do estômago para o intestino delgado. Às vezes, isso é desencadeado quando muito açúcar ou grande quantidade de alimento é ingerido. Embora não seja considerado como um sério risco para sua saúde, os resultados podem ser muito desagradáveis e incluir náusea, fraqueza, transpiração, fragilidade e ocasionalmente diarreia, após as refeições.
– Alguns pacientes não conseguem comer qualquer forma de doces, após a cirurgia;
– A parte desviada do estômago, duodeno e segmentos do intestino delgado não pode ser facilmente visualizada, usando um raio-x ou endoscopia, caso ocorram problemas como úlceras, hemorragias ou malignidade.
- Desvio Bilio Pancreático (Cirurgia de Scopinaro e Derivação duodenal – Duodenal Switch)
(Cirurgia disabsortiva)
Embora essa operação também reduza o tamanho do estômago, a bolsa do estômago criada é muito maior que a dos outros procedimentos. O objetivo é restringir a quantidade de alimento consumido e alterar o processo digestivo (diminuir a absorção) normal, mas para um grau muito maior.
A anatomia do intestino delgado é alterada, para desviar os sucos biliares e pancreáticos, para que encontrem o alimento ingerido mais próximos ao meio ou final do intestino delgado. Com isso a absorção de nutrientes e calorias também é reduzida, mas para um grau muito maior do que com os procedimentos ditos como mistos.
Vantagens:
– Essas operações geralmente permitem que o paciente consiga fazer refeições maiores que as do procedimento restritivo puro ou gastroplastia padrão com derivação em “Y de Roux”;
– Esses procedimentos podem causar uma perda maior de peso excessivo, pois fornecem os mais altos níveis de mal absorção;
– A perda de peso excessivo pode ocorrer de 74% em um ano até 91% em cinco anos;
– A manutenção a longo prazo da perda do peso corporal excessivo pode ser bem-sucedida, se o paciente adaptar-se e aderir a uma dieta honesta, com suprimentos, exercícios e regime comportamental;
Riscos:
– Para todos os procedimentos de mal absorção há um período de adaptação intestinal, quando os movimentos do intestino podem ser muito líquidos e frequentes, ou seja, o paciente terá vários episódios de diarreia líquida e fétida e eliminação de gazes. Essa condição pode diminuir no decorrer do tempo, mas pode ser uma ocorrência permanente e vitalícia;
– Inchaço abdominal e evacuação fétida ou gases podem ocorrer;
– Monitoramento rigoroso e vitalício quanto à má nutrição de proteína, anemia e doença óssea é recomendado. Da mesma maneira, é necessário um complemento vitamínico vitalício. Em geral, observou-se que se as instruções de alimentação e complemento vitamínico não forem rigorosamente seguidas, no mínimo, 25% dos pacientes desenvolverão problemas graves que precisarão de tratamento;
– O redirecionamento dos sucos biliares e pancreáticos, bem como de outros sucos digestivos, para fora do estômago pode causar irritação intestinal e úlceras;
– Como o duodeno é desviado, a má absorção de ferro e cálcio pode resultar na redução do total de ferro do organismo e uma predisposição para anemia por deficiência de ferro. Essa é a principal preocupação para os pacientes que apresentam perda de sangue crônica, durante fluxo menstrual excessivo ou hemorragia de hemorroidas. Mulheres já em risco de osteoporose, que pode ocorrer após a menopausa, devem estar conscientes do potencial para perda intensificada de cálcio no osso;
– O desvio do duodeno causou uma doença ósseo-metabólica em alguns pacientes, resultando em dor nos ossos, perda de altura, corcunda e fraturas nos ossos das costelas e quadris. Todas as deficiências mencionadas acima, no entanto, podem ser tratadas através de dieta apropriada e complementos vitamínicos;
– Pode ocorrer anemia crônica, devido à deficiência de Vitamina B12. O problema geralmente pode ser tratado com pílulas ou injeções de B12.
Banda Gástrica Laparoscópica Ajustável
- Cirurgia restritiva
Este é um procedimento cirúrgico restritivo puro, no qual uma banda é colocada em volta da parte superior do estômago.
Essa banda divide o estômago em duas partes, uma pequena e outra maior. A maioria dos pacientes se sente cheio mais rapidamente, pois a banda restringe a entrada do alimento.
A digestão de alimento ocorre através do processo digestivo normal.
Vantagens:
– Restringe a quantidade de alimento que pode ser consumida em uma refeição;
– O alimento consumido passa pelo restante do trato digestivo da forma usual, permitindo ser totalmente absorvido pelo organismo;
– A perda do excesso de peso varia de 28 a 87%;
– A banda pode ser ajustada para aumentar ou reduzir a restrição;
– A cirurgia pode ser revertida;
Riscos:
– A perfuração gástrica ou desgaste na parede do estômago pode exigir uma operação adicional para a retirada da banda;
– O vazamento ou torção do portal de acesso pode exigir uma operação adicional;
– Pode não fornecer a sensação de satisfação necessária de ter comido o suficiente;
– Náusea e vômito;
– Obstrução da saída;
– Dilatação da bolsa;
– Migração/deslizamento da banda;
– Perda de peso insuficiente.
- Sleeve Gástrico (gastrectomia vertical ou gastrectomia em manga ou gastric sleeve) – cirurgia restritiva
A gastrectomia vertical (ou gastroplastia vertical, ou gastrectomia em manga, ou “Gastric Sleeve”) foi inicialmente descrita como parte da operação de derivação biliopancreática. O conceito de gastrectomia vertical evoluiu das cirurgias de gastroplastia vertical com banda (Cirurgia de Mason) e da operação de Magenstrasse e Mill, que realizam tunelização parcial da pequena curvatura gástrica com a finalidade de restringir a capacidade de ingestão alimentar.
Vantagens:
– A gastrectomia vertical, sendo procedimento restritivo, não se acompanha de efeitos colaterais significativos quanto a deficiências nutricionais ou de vitaminas;
– Seu insucesso como procedimento isolado permite que seja feita complementação tanto para gastroplastia jejunal em Y de Roux como para a derivação bliopancreática;
Riscos:
– Vários aspectos merecem discussão mais aprofundada para a aceitação da gastrectomia vertical como procedimento de uso rotineiro no tratamento cirúrgico da obesidade;
– Os estudos publicados ainda referem-se a resultados de curto e médio prazo;
– Observa-se tendência a reganho de peso no seguimento mais tardio.
- Técnicas alternativas
Balão Intragástrico
O balão intragástrico consiste na colocação de prótese, por via endoscópica, no interior do estômago diminuindo a capacidade de ingestão do paciente.
É uma técnica transitória, após 4 a 6 meses o balão necessita ser removido (também por endoscopia). Pode ser utilizado em pacientes que não tem Índice de Massa Corporal (IMC) para serem submetidos à cirurgia e que necessitem perder peso.
Entretanto, sua indicação mais importante está nos doentes com indicação de cirurgia que apresentam situação clínica desfavorável, coloca-se o balão e com o emagrecimento obtido o doente é operado posteriormente com menores riscos.
Gastroplicatura
A Gastroplicatura é uma cirurgia sem corte no estômago, ou seja, é uma técnica menos agressiva.
A perda de peso é menor que as outras cirurgias bariátricas, podendo perder em média de 15 a 20% do peso inicial.
A cirurgia é realizada por vídeolaparoscopia – o que reduz a dor após a cirurgia e os pacientes recebem alta para casa no dia seguinte ao procedimento. E, o paciente é internado no dia da cirurgia.
O estômago não é cortado, a redução do estômago é feita dobrando-o como numa prega de roupa. A parede do próprio estômago preenche o seu interior. O seu contorno se assemelha ao da gastrectomia vertical. Mas no lugar de retirar um pedaço, na gastroplicatura, a mesma porção é pregueada. Os pacientes relatam que ficam satisfeitos com porções menores.
Não há implantação de anéis ou bandas e não são necessários os ajustes constantes como na banda gástrica. Nenhum corpo estranho, anel ou banda circundando o estômago é implantado. Isso elimina escorregamento (slippage) e erosão (perfuração tardia) pela banda.
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